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30/10/2019   /   Drª Carla Carioni /   Constelação Familiar

Tomar os pais e a força da vida

A transmissão da vida acontece desde o nosso primeiro sopro no mundo: assim que nascemos a vida passa a fluir através de nós. Não apenas nossa própria vida, mas também a vida de todas as gerações que nos antecederam. Nossos pais, nesse sentido, tem uma importância crucial, pois são eles os primeiros elos fundamentais que nos ligam à vida e possibilitam, assim, que possamos também transmiti-la, colocando-nos, mesmo que não tenhamos filhos, à serviço dela. Mas qual a importância de estar à serviço da vida? Como isso influi no modo como nos relacionamos e forjamos encontros verdadeiros e amorosos? 

 

O modo como permanecemos no amor é também o modo como perseveramos na vida. Permanecer no amor, numa relação, significa amar uma situação ou uma pessoa tal como ela é, como se apresenta a nós, qual seja a sua natureza. Mas nem sempre nos entregamos inteiramente aos encontros, aos desafios, aos presentes, que a vida nos dá pois muitas vezes seguimos aprisionados à traumas passados que nos impedem de conhecer e experimentar momentos e formas de viver novas em nossa jornada. Estar entregue ao amor significa um exercício contínuo de cura e libertação desses traumas, os quais podem vir de uma decepção no trabalho, uma fragilidade na saúde, a falta de estabilidade financeira, a perda de um amigo, ou muitas vezes, à sentimentos de desamparo que são experimentados pela primeira vez quando somos crianças.

 

O processo de cura, nesse sentido, está intimamente ligado a uma entrega primeira, a nossa mãe e nosso pai, a partir do qual podemos regressar ao amor infantil original. Nessa regressão, todo o sentimento de desamparo que algum dia possamos ter experimentado na infância, é acessado a partir das boas imagens que guardamos de nossos pais. Imagens de cuidado, de momentos alegres, de descobertas em companhia, da nutrição vinda da mãe. A partir dessas imagens, o antigo sentimento de vazio é transformado num estado de preenchimento e pertencimento de uma história. Uma familiar história de amor. Nos re-conectamos com a nossa ligação primeira com a vida e assim podemos avançar em outras relações que constituímos no meio social e cultural que habitamos. 

 

A transmissão da vida, assim, o modo como nos movimentamos nela, passa a se expandir na direção contrária a da dor e de um trauma original. A transmissão da vida passa a fluir na direção do êxito e das conquistas que geram em nós a sensação de satisfação e encontro com o que há de mais íntimo do nosso ser. Dessa forma, o processo de cura é um processo de libertação e auto-cuidado. E justamente por ser um processo, ele exige de nós persistência e a criação de vínculos afetivos e redes de pessoas que nos acolham. Redes que encontramos nas nossas relações com aqueles que amamos, mas também, muitas vezes, no espaço precioso de fala e escuta das sessões de psicoterapia.


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